terça-feira, 1 de abril de 2014

Educação Financeira - A aprendizagem para economizar tem que começar na infância.

A educação financeira 
tem que começar em casa 
durante a infância. 
A mesada é uma forma 
pela qual 
as crianças aprendem responsablidades.


Todo mundo sabe que educação é algo que tem que começar em casa e na infância. O que todo mundo precisa saber é que essa regra é muito importante também para a educação financeira. Um dos instrumentos que tem se revelado como muito importantes para a educação financeira das crianças é a mesada.
A mesada não é apenas uma determinada quantia em dinheiro que os pais tem que dar aos filhos todo mês. É o dinheiro que as crianças recebem dos pais todo mês para que elas aprendam desde cedo como manejá-lo. Ou seja: através da mesada, as crianças aprendem a assumir responsabilidades e a lidar com elas. Porém, para que isto ocorra, é preciso que pais e mães estejam preparados para a divisão de papéis que deve ocorrer a partir do momento em que a criança passa a receber a mesada. Lair Ribeiro, um dos mais renomados especialistas em desenvolvimento pessoal e profissional no Brasil, também recomenda a "quinzenada" e a "semanada" se isto for possível. "O que muda é o tempo", ele diz. "O mais importante é, antes de decidir dar a mesada, ter uma boa conversa com seus filhos", aconselha o autor de 29 livros sobre economia que se tornaram "best-sellers". 
Lair Ribeiro recomenda que, nessa conversa, os pais e mães, juntamente com filhos e filhas, devem ser decididos os valores, a frequência com que os filhos receberão o dinheiro e quais serão as despesas que eles terão que assumir a partir daquele momento. Ocorre que muitos pais tem dúvidas sobre quando devem começar a pagar mesadas aos filhos. Lair diz que não há uma idade certa para a criança começar a receber mesadas. "Muitos fatores atuam nesse momento, e por isto o ideal é que os pais aguardem as solicitações dos filhos", ele recomenda. 
"É comum entre as crianças o fato de elas, a partir de algum momento, manifestarem que sentem necessidade de dinheiro", diz Lair Ribeiro. Ele explica que geralmente essas necessidades de pressões de amigos da mesma faixa etária que já recebem mesadas. Não se trata propriamente da necessidade de dinheiro, mas da real necessidade que a criança sente em ter sua independência em relação ao dinheiro. De alguma forma e por alguma razão, a criança passa a perceber que precisa ganhar o dinheiro em troca de algo para não ter que pedi-lo. Isto cria uma outra necessidade dentro da família: o planejamento de uma divisão de tarefas.
Lair Ribeiro também é médico. Ele diz que aprendeu que, quando a criança entra na fase do "eu quero", já sabe o que tem que fazer para conseguir o que quer. Segundo ele, isto já começa acontecer antes da criança completar dois anos de idade, e caberá aos pais decidir quais são as vontades que poderão ser atendidas. A fase seguinte é a do "compra!", que ocorre geralmente entre os dois e três anos. "Aí, pode se tornar um verdadeiro martírio para pais e mães quando não estão devidamente preparados para contornar a situação. Quem nunca viu crianças se esperneando, chorando gritando, fazendo birra, deixando pais e mães aborrecidos ou constrangidos diante de várias pessoas nos shopping centers?" - lembra o autor de "Aprimorando a Relação com o Dinheiro".
A mesada não é simplesmente dinheiro dado. É um instrumento de educação financeira, como já foi esclarecido acima. Portanto, a criança terá que assumir responsabilidades para recebê-lo. Esse dinheiro é o salário dela. Elas precisam ter deveres a cumprir e aprender desde cedo a fazer seus próprios orçamentos. Isto as faz perceberem que, se gastarem todo o dinheiro de uma só vez, ficarão sem dinheiro até o outro mês.
O educador financeiro Álvaro Modernell explica num "passo-a-passo" como os pais podem fazer com que a mesada seja um instrumento eficiente na educação financeira dos filhos. 

1) O que é a mesada?

Mesada é um valor acordado entre pais e filhos a ser entregue regularmente, para que os filhos aprendam a lidar com dinheiro com uma certa independência. Note que não é independência total.

2) A mesada pode ser entregue a qualquer tempo ou é melhor ter uma periodicidade?

É melhor que haja periodicidade. Deve-se estabelecer um dia para a mesada.
  • Até uns 6 anos de idade, pode-ser dar eventualmente uma quantia para que a criança possa se familiarizar com o uso do dinheiro.
  • Dar um valor para que ela possa pagar o sorvete, para que possa guardar na carteirinha dela... Para que ela perceba a relação de troca que existe entre o dinheiro e aquilo que ela deseja.
  • A partir dos 6 ou 7 anos pode-se introduzir a mesada com periodicidade semanal – a chamada semanada.
  • Nessa idade, as crianças ainda têm dificuldade de lidar com um horizonte maior de tempo. Elas percebem o ciclo semanal que é quando a rotina da casa se altera: elas ficam sem ir à escola, os pais ficam em casa.
  • Dos 8 aos 10, 11 anos, se os pais quiserem, podem fazer uma transição da semanada para a quinzenada. Dar dinheiro de 15 em 15 dias.
  • A partir dos 11, 12 anos, a criança já tem condições de lidar com um ciclo mensal. O dia do recebimento pode ser o mesmo dia em que os pais recebem o salário.

3) Qual é o momento ideal de dar a mesada?

O ideal seria começar na faixa dos 6, 7 anos porque aí os pais aproveitam todo o ciclo de evolução da criança. Mas, se nunca houve essa preocupação, um momento bom é a partir da demanda dos filhos. Muitas vezes, dependendo da forma como foi iniciada a mesada, pode ser que a criança não queira receber a mesada ou mesmo não valorize o dinheiro. Mas quando os filhos percebem que seus amigos recebem mesada, eles começam a pedir e os pais podem aproveitar esse momento para ensinar também.

4) Quanto dar de mesada?

O importante é os pais passarem a noção muito clara do nível econômico deles. O filho não tem que receber o mesmo valor de mesada que o colega da classe recebe. Se a sua condição financeira é um pouco melhor que de alguns, pode receber um pouco mais. Mas o ideal é que o filho não receba a mesada mais alta nem a mais baixa da turma. A média é sempre o ideal.

5) Por que dar e para que serve a mesada?

A mesada é um instrumento de educação financeira. Ela por si só não ensina nada. Junto com a mesada, os pais têm que dar orientação. É por meio da mesada que elas vão experimentar as situações típicas da vida adulta. Querer comprar alguma coisa e ela custar mais caro do que a sua renda.

6) Para o que não serve a mesada?

A mesada não deve ser usada para comprar o lanche da escola, especialmente quando a criança ainda é pequena. Por quê? Para não correr o risco de a criança tomar a decisão de trocar o lanche pelo dinheiro. Na infância, a mesada também não deve contemplar roupas, sapatos e muito menos atividades extras como futebol, natação, inglês. Na adolescência, é diferente. Se o adolescente quer comprar roupas de grife, ele pode usar o dinheiro da mesada.
Também não se deve trocar mesada pelas obrigações das crianças, como tirar boas notas na escola ou arrumar o seu quarto, os seus brinquedos. A criança tem que entender que tem deveres e isso não deve ser estimulado pelo dinheiro para que não se incentive a criação de uma personalidade mercenária. Outra coisa que não se deve "comprar" com mesada: executar as tarefas domésticas. Pagar para arrumar o quarto, para guardar os brinquedos. São deveres das crianças independentemente de mesada.

7) Pode-se pagar para a criança fazer alguma atividade?

Se quiser estimular o empreendedorismo na criança, é possível pagar para ela fazer alguma atividade fora dos seus deveres. Por exemplo: lavar o carro do pai, arrumar o quarto do irmão pequeno. Mas tem que ser algo que esteja fora da sua esfera de deveres. Jamais pagar para tirar boas notas na escola.

8) Se a pessoa tem dois filhos e um quer receber mesada e o outro não. O que fazer? Forçar é solução?

As crianças são diferentes. Mesmo gêmeos idênticos têm diferenças e essas diferenças têm que ser respeitadas. Pode ser que um filho busque uma independência maior na vida adulta e queira ser um empresário e o outro queira ter estabilidade e segurança, tornando-se funcionário público, por exemplo. O ideal é respeitar as diferenças. Agora, não receber mesada não pode incluir uma vantagem indevida. Enquanto um recebe mesada e tem o dinheiro contado, o outro que não recebe tem o que quer na hora que quiser. Isso não deve acontecer.

9) Como começar a dar a mesada?

A regra tem que ser clara. O importante é que os pais combinem antes com os filhos. Normalmente a mesada é usada para que a criança compre o que ela queira por vontade própria e que não seja obrigação dos pais.  Figurinha, sorvete, brinquedo, cinema, etc.
Os pais podem estipular limites para o uso da mesada. Se o filho quer comprar figurinha, pode usar a quarta parte da mesada para isso, por exemplo. O importante é a regra ser clara. Para o adolescente, é possível estabelecer um limite para que ele pague o que usa acima do valor estabelecido em acordo. Se ultrapassar o limite do celular, por exemplo, o excedente sai da mesada. Se quiser comprar roupas de marca, tênis, ele também paga com a mesada.

10) Qual o valor da mesada?

Não existem regras que se apliquem a todos os casos. A que estabelece R$ 1 por ano de vida (por semana) funciona nos Estados Unidos, mas a realidade financeira de lá é diferente da do Brasil. Lá as famílias têm um padrão de renda mais parecido entre si. Aqui, uma criança que mora em Brasília tem necessidades e custos diferentes da de uma que mora em São Paulo ou no Ceará. Uma família que tem um filho pode dar uma mesada diferente daquela que tem quatro filhos.

11) Quanto os filhos dos amigos ganham é um bom parâmetro para escolher quanto dar de mesada?

Não há uma regra única. É importante que os pais conheçam a realidade dos filhos. Muitos pais tentam escapar disso. Ver quanto os filhos dos amigos recebem é um bom parâmetro. Mas é importante que o seu filho não seja o que ganha a maior mesada nem a menor. É muito importante que, se puder dar R$ 100,00, dê R$ 50,00. A escassez ensina mais que abundância. E é mais fácil calibrar a mesada para cima do que para baixo.

12) A criança deve poupar parte da mesada ou ela pode gastar tudo?

O ideal é que a criança seja estimulada a poupar no mínimo 20% da mesada.

13) Se os pais estão habituados a pagar tudo para a criança, como começar a estipular  o que a criança vai pagar com sua mesada?

Nem dar tudo, nem negar tudo. Tem que ter período de transição. As regras têm de ser muito claras. Quando começar a dar a mesada para um adolescente, o custo das saídas com os amigos poderia sair da mesada. Quando sair com os pais, estes pagam. Pode ser uma boa regra de transição. Nunca dê tudo que o filho quiser. Mesmo que os pais possam, é educativo negar de vez em quando. A criança se sentirá frustrada, mas aprenderá a esperar. Perceba que quando você mesmo aprende a esperar seja o que for, você evita o consumo por impulso.

14) Como ensinar qual é a hora correta de consumir?

Quando tem o dinheiro disponível. Quando não tem o dinheiro disponível, é preciso esperar e juntar a mesada para conseguir o que quer. Isso é educação financeira.


Fontes: 
  • "Aprimorando a Relação com o Dinheiro", de Lair Ribeiro - Editora Escala. 
  • Uol Economia

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