sexta-feira, 20 de julho de 2012

Uma mosca capaz de matar todo um rebanho


Originária da Europa,
a mosca-de-chifre causa grandes danos em rebanhos bovinos,
caprinos e ovinos nas Américas do Norte, Central e dos Sul.
A foto, do Instituto de Biomédica da Universidade de São Paulo (USP),
mostra uma mosca-do-chifre fêmea sobre o dorso de um boi.


Nem todos os ditados populares são merecedores de crédito. Não acredite que "tamanho não é documento", pois a mosca-do-chifre, cujo nome científico é "Haematobia irritans", mostra claramente que isto não é verdade: mesmo sendo um inseto tão pequeno, causa grandes danos à saúde de carneiros, cavalos, bois e, claro, pessoas.
Originária da Europa, a espécie chegou ao continente americano provavelmente no final do século XIX, e já naquela época causava problemas graves a rebanhos bovinos, ovinos, caprinos e equinos. No Brasil, tornou-se uma verdadeira praga a partir de 1980, ano em que já havia causando problemas sérios na Guiana, na Colômbia e na Venezuela.
Essa praga entrou no Brasil no final da década de 1970, através do Acre, com o gado contrabandeado da Guiana. Comprovando que o progresso é bom e necessário mas às vezes custa caro, a abertura da rodovia BR-174, ligando Manaus a Boa Vista, facilitou a dispersão dessas moscas pela região Norte. Em abril de 1985, as moscas-do-chifre já haviam invadido grande número de fazendas nos estados do Amazonas e do Pará. Na mesma época elas chegaram à região Nordeste começando pelo Rio Grande do Norte.
A mosca-do-chifre é um inseto hematófago (alimenta-se de sangue). Bem pequena, tem quase a metade do tamanho de uma mosca doméstica. Ela ataca sempre em grandes "nuvens", semelhantemente à forma de ataque dos gafanhotos. Atacam todas as espécies de animais de sangue quente, mas têm grande preferência por bovinos. Sua picada é muito dolorosa e provoca grande irritação na pele.

Evidências do ataque, os problemas que eles causam e meios de combatê-las

Os sinais causados pelo ataque da mosca-do-chifre são bem evidentes. Nas vacas, percebe-se uma sensível queda na produção do leite, cuja redução pode chegar a 50%. Todo o rebanho sofre grande perda de fertilidade e de imunidade contra certas doenças, inclusive algumas que causam mortes. A produção de carne cai em torno de 20 a 40%. Tentando se livrar das moscas, os animais costumam se esfregar muito em troncos de árvores, cercas, etc., o que causa ferimentos graves que podem ser infestados por larvas de outros insetos.
As moscas-do-chifre costumam se concentrar em grupos numerosos no dorso do animal. Se a vítima for um bovino, elas se concentram no dorso, nos flancos ou na barbela, permanecendo sem sair do local durante todo o tempo necessário para a postura dos ovos - ou seja, vários dias. Os ovos são postos durante 10 minutos, em grupos de seis ou sete, sobre fezes frescas, produzidas pela vítima no máximo há dois minutos. Em regiões de climas frios, o período desde a postura dos ovos até a transformação da larva em mosca é de aproximadamente cinco dias. Em clima quente, pode chegar a 15 dias. Cada animal pode ser infestado por mais de quatro mil moscas-do-chifre ao mesmo tempo.
Os processos mais usados para combater a praga são os brincos e pulverizações com piretróides sintéticos. Os piretróides são obtidos através da trituração de flores do crisântemo. Desta forma se obtém o ácido crisantêmico, um inseticida natural que pode ser sintetizado. Seu efeito dura até seis semanas. Os brincos impregnados com piretróides sintéticos como o fermalerato, a permitrina e a decametrina protegem o animal por cerca de 90 dias. Porém não protege todo o corpo do animal, mas apenas a parte anterior do corpo. A proteção se restringe apenas às partes próximas da cabeça, já que os brincos são colocados nas orelhas. Piretróides como o methoprene, o flubenzuron e a cyromazina são muito bons para inibir o crescimento dos insetos. Isto é muito importante para o controle da praga, mas os resultados são ainda melhores se, além destes produtos, também for utilizada infermectina, que impede o desenvolvimento das larvas da mosca-do-chifre.
Em 1985, representantes do setor pecuarista de vários estados formaram uma comissão para estudar medidas de controle a serem adotadas contra as moscas-do-chifre. A prmeira proposta foi a do estabelecimento, em cada estado, de uma rede de informações e coleta de espéicies de moscas a serem enviadas ao Instituto Biológico (IB) de São Paulo para triagem e identficação. O objetivo foi a obtenção de um mapeamento dos ataques das moscas no país. Em seguida, o instituto encaminharia às autoridades sugestões para controle efetivo e rigoroso da praga. Os produtores pecuaristas que desejarem obter mais informações a esse respeito podem solicita-las através de carta ou por e-mail (dq@biologico.sp.com.br). Para o envio de cartas, o endereço é:
Instituto Biológico - São Paulo
Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Vila Mariana, São Paulo, SP
CEP: 040414-002.

Referências:
  • Informações do Instituto Biomédico da USP (http://www.icb.usp.br/~marcelcp/Haematobia.htm)
  • DeCS - Descritores em Ciências da Saúde
  • revista "Ciência Hoje" no. 19, Vol. 4 - publicação da ABPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) - Rio de Janeiro, RJ.

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