quinta-feira, 28 de março de 2013

Fraudes científicas: um dos piores males da humanidade.

As fraudes em ciência são muito mais comuns do que se costuma imaginar. A maioria delas é baseada no pensamento - antigo, mas ainda existente - de que toda experiência importante pode, em princípio, ser reproduzida por outros pesquisadores. É um pensamento que procura justificar a fraude em pelo menos alguns casos com o intuito de nos fazer entender que isto desencorajaria a desonestidade. 
Felizmente esse raciocínio não é unânime entre os cientistas. Muitos deles consideram que não se pode recorrer à falsificação para se comprovar uma verdade. Infelizmente, ainda assim as fraudes em ciência não são raras. Alguns pesquisadores argumentam que as "grandes fraudes" são exceções, e consideram a maioria delas como "pequenas fraudes". O fato é que, grandes ou pequenas, fraudes são sempre fraudes, e não é preciso ser um cientista para se concluir que todas são prejudiciais, inclusive porque, para descobri-las, são gastos recursos altíssimos que seriam melhor aplicados se fossem utilizados para o avanço do verdadeiro conhecimento. 
Muitos dos próprios cientistas afirmam que não há estimativa da magnitude das fraudes científicas. Eles afirmam também que as fraudes, independentemente de serem grandes ou pequenas e de sua frequência, só contribuem para causar impactos negativos sobre as pesquisas. É claro que tais fraudes prejudicam os próprios cientistas, as instituições para as quais eles trabalham e a sociedade em geral, pois isto afeta, entre outras coisas, a qualidade no tratamento de doenças. Não podemos deixar de levar em consideração que nós, os cidadãos em geral, pagamos caro por isto também porque tais pesquisas são custeadas por meio de impostos que pagamos.
Não é fácil descobrir uma fraude científica. Mesmo os cientistas mais capacitados levam décadas para descobri-las, apesar do avanço tecnológico e da inegável melhoria de técnicas para detectá-las. Porém, felizmente elas acabam sendo descobertas em algum momento. O problema é que, por causa delas, muitos prejuízos ocorrem durante essas décadas. Prejuízos estes que poderiam ser evitados em vez de ter que ser descobertos e remediados. 

Como as fraudes científicas ocorrem?

O processo mais conhecido e mais antigo é, digamos, um tanto "artesanal". Usando apenas uma tinta, uma tesoura ou uma máquina fotográfica, o falso pesquisador produz uma "descoberta científica". É uma fraude trabalhosa, facilmente denunciável, mas ainda muito comum.  
Outro processo também muito praticado é a apresentação de um trabalho científico já publicado, porém como se a cópia apresentada fosse original. É uma simples cópia, exige pouco trabalho para ser produzida, mas é difícil detectar a fraude quando o falso pesquisador copia trabalhos de circulação restrita como, por exemplo, teses  apresentadas por estudantes universitários de outros países (isto é favorecido pelas diferenças entre os idiomas).
Outra forma de fraude detectada com muita frequência pelos cientistas é a falsificação de informações. Na maioria dos casos, esse tipo de fraude tem como objetivo "comprovar" teorias que na verdade já são conhecidas. Estas, segundo os cientistas, são incluídas na categoria das "pequenas fraudes" porque não acrescentam coisa alguma ao conhecimento e servem apenas para conferir um grau acadêmico ao autor. Entretanto, a gravidade dos problemas que elas podem causar se evidencia pelo fato de trazer, como se fossem verdadeiras, informações ainda não comprovadas que podem gerar sérias consequências sociais.
Existem também fraudes como alterações de dados. Essas alterações podem causar o menosprezo de valores importantes. O grande problema nestes casos é saber se houve mesmo uma tentativa de fraude ou se a alteração de dados ocorreu por engano.
Alguns autores dizem que é difícil distinguir entre uma fraude e um engano mas é possível detectar a verdade verificando se os trabalhos apresentados como científicos trazem de fato acréscimo ao conhecimento. No entanto, filósofos como o norte americano Ian Mitroff - especialista em teoria organizacional, consultoria empresarial e ex-professor da USC (Universit of Southern Califórnia - "Universidade do Sul da Califórnia") - argumenta que a aceitação ou rejeição da "verdade" não depende da verdade propriamente dita, mas do quanto a afirmativa está relacionada às crenças prevalentes. Ou seja: o fato da teoria ser mais atraente do que a verdade faz com que a teoria seja amplamente aceita como verdade.
Apesar disto, felizmente um imenso número (espero que seja a maioria) de cientistas em todo o mundo manifesta seu pensamento de que toda fraude científica deve ser descoberta e punida. Nos Estados Unidos, a punição existe e varia, segundo cada caso, desde a perda do direito de receber doações para outras pesquisas à demissão da instituição para a qual o pesquisador trabalha, podendo ser igualmente punidos também co-autores e colaboradores da fraude. Mesmo assim, naquele país o índice de casos de fraudes científicas tiveram um aumento de 161% nos últimos 16 anos.
No Brasil, segundo Silvio Salinas, os índices também são muito altos. Salinas, que é físico da Universidade de São Paulo, diz que 
existe leniência em relação a esse comportamento. Essa leniência é favorecida pelo fato de que, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde uma agência federal investiga casos assim, no Brasil o acompanhamento dos casos e possíveis punições ficam por conta das instituições onde as fraudes ocorrem.

Fontes:

Um comentário:

  1. Excelente assunto sendo discutido. Podemos ver exemplos desta "leniência" acontecendo agora mesmo, no caso de biólogos de São Paulo, abaixo:

    http://retractionwatch.wordpress.com/2013/08/04/university-funding-agency-clear-researcher-rui-curi-of-fraud-charges/

    http://blogs.estadao.com.br/herton-escobar/usp-e-cnpq-inocentam-rui-curi-de-acusacoes-de-fraude/

    Depois de evidências fortíssimas levarem orgãos internacionais a levantarem punições, as agências do Brasil resolvem empurrar o caso por meses e no fim declarar inocência sem maiores explicações. Assim, como fica?

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