Eis as precaríssimas condições em que já estavam os manuscritos - ou melhor, pedaços de manuscritos - encontrados próximo ao Mar Morto em 1947. |
Parece ser mesmo
impossível
que alguém realmente saiba
alguma verdade sobre a Bíblia.
Independentemente do que dizem os textos bíblicos,
a própria história da Bíblia
é repleta de dúvidas, especulações e meras interpretações pessoais.
Segundo a enciclopédia Conhecer, da Abril Cultural, a palavra "Bíblia" não se refere a um livro, mas a muitos livros, pois provém da palavra grega "Bibliae", que significa "Os Livros". Não se sabe muita coisa a respeito dos textos bíblicos originais. Tudo que se conhece a respeito não passa de especulações. Sabe-se da existência de textos escritos há mais de quatro mil anos, e que foram encontrados a partir de 1947 nas cavernas de Qumran, uma região banhada pelo Mar Morto (que na verdade é um lago salgado, não um mar). É interessante lembrar que "Qumham" é o nome em árabe do que nós chamamos de "Corão" ou "Alcorão", o livro sagrado dos muçulmanos.
Quando foram encontrados, os papiros que continham esses textos já estavam muito fragmentados (claro, já tinham mais de quatro milênios), e muitos dos pedaços continham partes do texto apagadas. É de se supor, portanto, que as complementações foram feitas com bases em suposições, especulações, etc. Deve-se lembrar também que a primeira edição impressa da Bíblia surgiu quando o alemão Johannes Gutenberg (seu nome não era "João" Gutenberg) inventou a primeira impressora - ou "prensa", em 1439. Antes, portanto, de se ter conhecimento da existência dos Manuscritos do Mar Morto.
Isto nos faz concluir que os manuscritos em pedaços encontrados em Qumran também não eram originais. De fato, especialistas em escritos antigos dizem que eles são compilações feitas por Essênios - uma seita judaica - por volta do século II a.C. (antes de Cristo). Em seu artigo "The Bible" ("A Bíblia"), publicado no livro "The World's Religions" ("Religiões do Mundo"), de diversos autores, o teólogo britânico Richard T. France, especialista em estudos bíblicos do London Bible College, diz que os livros da Bíblia foram escritos originalmente durante um período de mais de mil anos, sob as influências de diferentes culturas, idiomas e estilos de linguagem em cada idioma e em cada época. Isto obviamente já causava diferentes interpretações - "achismos", como diríamos hoje - desde então. É claro que, como se trata de textos escritos há mais de quatro mil anos, eles se referem ao chamado Velho Testamento. Originalmente, a Bíblia não continha o Novo Testamento, o qual foi incluído por líderes cristãos. É a partir disto que a Bíblia judaica passa a diferir da Bíblia cristã - ou melhor, das Bíblias cristãs, pois a Bíblia cristã protestante é diferente da Bíblia cristã católica.
A Bíblia impressa por Gutenberg era na verdade um incunábulo (nome dado a todos os livros publicados de 1450 a 1500). O alemão levou cinco anos (de 1450 a 1455) para imprimi-la completamente). Não se sabe se a Bíblia realmente impressa por Gutemberg ainda existe ou onde está, mas existe uma cópia dessa obra, em latim, com 1282 páginas, com texto em duas colunas em cada página, totalizando 73 livros bíblicos reunidos em dois volumes. Acredita-se que foram produzidas 180 cópias em pergaminhos e em papel, impressas, rubricadas e decoradas com iluminuras feitas a mão durante três anos, mas os textos ainda estavam incompletos. A Bíblia Hebraica, assim conhecida por conter textos originalmente em hebraico e aramaico, contém o Velho Testamento protestante, que é diferente do Velho Testamento católico. O Velho Testamento católico inclui os livros deuterocanônicos, utilizados pelos primeiros cristãos e considerados como "de inspiração divina" a partir do III Concílio de Cartago, ocorrido no ano 397. Esses livros são considerados apócrifos pelo judaísmo e pelos cristãos protestantes.
O Novo Testamento é o conjunto de livros cristãos que foram escritos após a morte de Jesus. Eles são dirigidos explicitamente aos cristãos, embora estes considerem como "Escrituras Sagradas" tanto as do Novo como as do Velho Testamento. Os originais foram escritos à medida em que o cristianismo se difundia no chamado "Mundo Antigo", especialmente nas regiões ainda sob o domínio do Império Romano, como a Judeia, que era toda a região situada a oeste do Mar Morto. A Judeia incluía toda a área desde as margens do Mar Morto (que não era - e não é - um mar, mas um lago de água salgada) ao mar Mediterrâneo (que era, como é, realmente mar), estendendo-se até as colinas de Golan ao norte e a Faixa de Gaza ao sul. Tal como o Velho Testamento, o novo também foi escrito por vários autores influenciados por culturas diferentes e por momentos históricos e políticos diferentes, além das compreensíveis divergências de linguagens num mesmo idioma. São 27 livros, nem todos aceitos imediatamente pela Igreja - antes do Movimento Protestante só havia a Católica, que era conhecida apenas como "Igreja Cristã" - mas que aos poucos foram incorporados à Bíblia católica e aceitos por ela como "canônicos". Costuma-se dizer que "canônico" significa verdadeiro e "apócrifo" significa "falso".
Na verdade, os significados dessas duas palavras não são tão simples assim. As palavras "canônico" e "apócrifo" são originárias, respectivamente, das palavras gregas "kanon" e "apokriphae" (em latim, "apocriphus"). Segundo especialistas em língua grega, como o italiano Luigi Moraldi (autor de "Evangelhos Apócrifos"), "kanon" significa tudo que possa se tornar do conhecimento de todos, e "apokriphae" é uma palavra referente a tudo que só possa ser accessível apenas a pessoas devidamente autorizadas. Isto aumenta muito o número de razões pelas quais há tantos conflitos sobre o entendimento e as interpretações dos textos bíblicos.
Pelo que se percebe, nem mesmo há como se ter certeza do que diziam os textos originais. As discussões são válidas. As dúvidas são mais do que justas, porque certezas, não há como tê-las. Não há como se saber de fato o que Deus condena ou aprova lendo-se a Bíblia, posto que, ao que parece, o que e a Bíblia contém a respeito são interpretações dos autores, muitas delas modificadas de acordo com a conveniência de muitos pesquisadores e também de muitos tradutores. Resta-nos, portanto, respeitar crenças, opiniões, interpretações, divergências de pontos de vista, em vez de pregarmos por aí o que a Bíblia diz ou não diz, como se fôssemos os únicos capazes de conhecer a Verdade Divina e de interpretá-la corretamente - ou como se alguém o fosse.
Fontes:
- "Bíblia" - Enciclopédia Conhecer, Série Verdade, Vol. I (Capas/A-Esp) - Editora Abril Cultural - São Paulo, SP.
- "Evangelhos Apócrifos", de Luigi Moraldi - Edições Paulinas - São Paulo, SP.
- "The World's Religions", de vários autores - Lion Handbooks - Londres, Inglaterra.
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