Frequentemente,
a religião é interpretada como espiritualidade,
e esta como religião.
Uma se relaciona à outra
de diversas maneiras
e por várias razões,
mas são duas coisas
muito diferentes.
Quando pesquisamos os dois temas mesmo bibliograficamente, percebemos essas diferenças claramente. As diferenças começam a ser percebidas quando analisamos as origens da palavra religião, que tem relação com duas palavras do latim: "religare" e "reliquiere". "Religare" significa "religar". Num sentido propriamente religioso, o verbo tem tendência maior para a sua forma reflexiva, "religar-se". Ou seja, através da religião as pessoas tentam recuperar uma ligação entre o natural e o sobrenatural, entre a humanidade e Deus, deuses, espíritos, etc.
Como se trata de uma tentativa de restabelecer uma ligação perdida em algum momento passado (por isto é uma tentativa de "religação", não de "ligação"), a palavra "religião" também tem relação com "relinquiere", que significa "relíquia", por ser algo passado de geração a geração. Realmente, há sempre uma tendência muito forte de que os filhos sigam as mesmas religiões de seus pais, principalmente por influência destes desde a infância.
De qualquer forma, como há uma relação muito íntima entre religiosidade e espiritualidade, é natural que haja uma tendência para se considerar a religião e a espiritualidade como se fossem a mesma coisa. Porém, toda religião é muito mais do que uma simples tentativa de recuperação de uma ligação entre o natural e o sobrenatural. Ela inclui sistemas sócio-culturais que envolvem crenças, práticas relacionadas a essas crenças, interpretações do Universo e do mundo em que vivemos e de suas respectivas origens e símbolos que relacionam as pessoas ao mesmo tempo à humanidade, à espiritualidade, a Deus, deuses, espíritos, etc., conforme cada crença e cada cultura. Adicionam-se também histórias consideradas sagradas que atravessam gerações oralmente e-ou através da escrita ("Escrituras Sagradas") que visam explicações para o sentido da vida e de tudo que existe. Juntos, esses fatores também tem o objetivo de direcionar princípios morais e éticos, leis supostamente estabelecidas por Deus ou por deuses (segundo cada religião), etc.
A espiritualidade é o conjunto de crenças e atitudes de uma pessoa ou de um grupo de pessoas (família, tribo, nação, etc.) com o objetivo de alcançar plenamente sua relação com a própria religião ou com coisas transcendentais. Porém o transcendental nem sempre é algo de fato imaterial. Como o próprio nome já o indica, é "transcendental" tudo aquilo que transcende - ou seja, está além de - nossa capacidade de compreensão causada pelos nossos limites de conhecimento. Portanto o que nós chamamos de transcendental entre no rol da "espiritualidade" não por ser algo sobrenatural, mas por ser algo natural ou material que ainda não somos capazes de entender. É o que acontece, por exemplo, quando os membros de uma aldeia que nunca teve contatos com nossa civilização ou outras mais avançadas veem um avião voando: o avião passa a ser interpretado como um deus ou uma divindade que sobrevoou a aldeia, e a partir daí nasce uma religião.
Fontes:
- "The Study of Religion" ("O Estudo da Religião"), de Douglas Davies.
- "Origins of Religion" ("Origens da Religião"), de Robert Brow.
- "'Religion' or The Fulfilment of Religion?" ("'Religião ' ou a Satisfação da Religião", de vários autores.
- - Série de artigos publicados em "The World's Religions" ("As Religiões do Mundo"),
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