segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Fenomenologia Religiosa


Sempre que os atentados de 11 de setembro de 2001
são lembrados, 
atribui-se a eles um fanatismo religioso,
especialmente referente ao islamismo. 
Fanatismo ou não, 
a relação de casos como aquele
com uma religião 
é estudada
através da fenomenologia.


Fiz várias pesquisas para buscar uma definição para a fenomenologia religiosa. Com esta finalidade, parti do princípio de que "fenomenologia" é o estudo dos fenômenos. Explicando de forma mais detalhada: "fenomenologia" é uma palavra proveniente de duas palavras gregas: "phainestai" e "logos", que significam respectivamente "fenômenos" e "estudo". É, de fato, uma corrente filosófica que estuda os fenômenos da consciência tendo por princípio que tudo que sabemos ou aprendemos do mundo se resume basicamente a eles. Portanto, a fenomenologia religiosa não é um estudo das religiões, mas dos fenômenos relacionados a elas e de seus reflexos sobre o comportamento de cada grupo de pessoas e, ao mesmo tempo, de cada pessoa numa mesma sociedade.
Porém, não considero essa definição como conclusiva, pois as fenomenologias de quaisquer áreas diferem entre si e de conceitos prévios, considerando as origens históricas de cada religião. As fenomenologias devem também considerar as peculiaridades de cada sociedade, cada cultura e cada época.  Isto obriga os estudiosos a classificar os fenômenos associados com tradições religiosas, objetos, rituais, doutrinas e sentimentos. Cada fenomenologista estabelece o que ele considera como a essência dos fenômenos e tenta descrever a influência dessa essência sobre as pessoas.

O pensamento de Gerardus Van der Leew

O antropólogo austríaco Gerardus Van der Leew (1890-1950) foi um dos mais destacados fenomenologistas de sua época. Para ele, o "poder" era, ao mesmo tempo, a origem e a base da essência de toda religião. Segundo Douglas Davies (*), Van der Leew dizia que esse poder se manifesta de várias formas, desde uma simples idéia de um homem numa religião da Melanésia até uma experiência maravilhosa dentro de qualquer religião do mundo.
Esse tipo de fenomenologia é uma tentativa de descrever as várias formas pelas quais as pessoas se conduzem em sua relação pessoal com o "poder". Neste caso, o sentido de "salvação" vem sobre essas pessoas quando elas possuem ou retêm a fonte desse "poder".
Douglas Davies ensina que a experiência religiosa individual não pode ser simplesmente observada por uma pessoa. "O fenomenologista pode apenas visualizar as consequências da experiência de um grupo de pessoas ou uma sociedade. O que Davies quer dizer com isto é que o fenomenologista pode descrever o que pode ser visto por um observador externo, mas não pode lidar com as questões da verdade.

A hierofania

Ouvi falar e li muito a respeito de Mircea Eliade durante minha vida. Fiz vários trabalhos escolares sobre seus estudos durante quase todo o meu período como estudante. Ainda hoje, quando leio a seu respeito, percebo o quanto esse húngaro nascido em 1907 ainda influencia os estudiosos da história das religiões. Como Douglas Davies diz, é difícil distinguir entre historiólogos da religião e fenomenologistas de religião porque suas perspectivas são muito semelhantes, e em muitos casos são as mesmas.  
Porém, o tipo de fenomenologia utilizado por Mircea Eliade era uma característica exclusivamente dele. Ele tentava descobrir como as religiões se desenvolveram através de suas fases históricas e, ao mesmo tempo, algo que confirmasse uma relação entre uma dessas fases e o que fosse considerado como algo "sagrado". Para isto, Mircea Eliade criou um conceito utilizado ainda hoje que inclui um conjunto de formas pelas quais o "sagrado" se manifesta, considerando pessoas "sagradas" (santos, profetas, etc.) e lugares "sagrados" (como Meca para os muçulmanos, por ser a cidade onde nasceu o "profeta" Maomé, ou Jerusalém para os cristãos por ser a cidade onde Jesus nasceu e viveu). Esse conceito é conhecido como "hierofania".
Douglas Davies aponta Jesus como o ponto máximo da hierofania, dizendo que nele o "sagrado" provém de um domínio  que se manifesta como algo que influencia profundamente o mundo ocidental e sua natureza humana. Mircea Eliade dizia que as religiões do mundo ocidental (a parte do mundo onde nós estamos) desenvolveram certas habilidades para diferenciar o "sagrado" do "desdenhoso" ou "não sagrado". Rudolf Otto, teólogo protestante alemão do século 19,  dizia que a realidade central da verdadeira religião se relaciona com um sentido de natureza inspiradora das origens das experiências religiosas. Otto não considerava a existência de uma "divindade", mas propunha a existência de um domínio sobrenatural.
Em suma, tanto os historiólogos como os fenomenologistas realizam seus estudos buscando evitar o reducionismo (***) e, ao mesmo tempo, evidenciar a falta da seriedade necessária para a produção de um método apropriado.

(*) Autor de "O Estudo da Religião", "Mitos e Símbolos" e "Religião dos Gurus: a Fé Sikh.
(**) "Divindade" não é o mesmo que "deus". Um deus é alguém a quem são atribuídos poderes sobrenaturais supremos. Uma "divindade" é alguém ou algo que supostamente tem o dom de ser um canal de ligação entre as pessoas comuns e Deus ou os deuses. Os santos da Igreja Católica, por exemplo, são "divindades", os crucifixos, objetos banhados com água benta, etc. Em outras religiões, as "divindades" podem ser pessoas vivas ou mortas, animais, objetos, etc.
(***) Corrente filosófica defende a redução de certos objetos, fenômenos e significados complexos às suas partes mais simples para facilitar explicações.
Referências:
  • "The Study of  Religion" ("O Estudo da Religião"), de Douglas Davies - "The World's Religion" ("As Religiões do Mundo") - vários autores - editora: Lion Publishing plc - Hertz, Inglaterra.
  • Enciclopédia "Conhecer" - Série Verde - Vol. II - editora Abril - São Paulo, SP

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