domingo, 22 de junho de 2014

A Oratória e a "Escutatória"

Um bom orador
não tenta convencer.
Ele busca falar,

ouvir o que as pessoas esperam dele e explanar suas razões.


Numa postagem que vi no Facebook, havia uma frase atribuída a Rubem Alves (o nome é só uma coincidência) dizendo que, assim como há cursos de oratória, deveria haver cursos de "escutatória". Duvidei que Rubem Alves teria dito isto. Duvidei ainda mais quando tentei acessar um site onde, segundo o Google Pesquisa, estaria um texto do próprio Rubem Alves sobre isto mas surgiu para mim uma informação constatando "erro" ao tentar abrir a página.
Achei que algo estava errado mesmo, pois Rubem Alves é um dos mais renomados psicanalistas, educadores, teólogos e escritores do Brasil. Com sua vasta experiência, ele certamente sabe que um bom curso de oratória tanto ensina a falar quanto a ouvir. Comete-se um grande erro quando se diz que a oratória é "arte de convencer". O objetivo de um bom orador não é convencer as outras pessoas como se ele fosse o dono da verdade. O objetivo do orador é falar em público ou através de televisão, rádio, etc., com a intenção de entreter ou informar os ouvintes usando para isto regras e técnicas adequadas que revelem suas qualidades pessoais como orador e como profissional (sua qual for a profissão dele). Isto não significa que ele tenha que convencer seus ouvintes. Significa que ele tenha que ser capaz de corresponder às expectativas de pelo menos alguns deles quanto à sua capacidade de comunicação, seja para um pequeno grupo de pessoas, uma grande plateia ou milhares de ouvintes. Profissionais de comunicação como os jornalistas e radialistas sabem disto, pois são obrigatoriamente oradores.
Tal como acontece em qualquer forma de comunicação, na oratória existem cinco itens básicos que devem ser considerados: "quem diz", "o que está sendo dito", "a quem está sendo dito", "por qual meio está sendo dito" e "quais serão os efeitos do que está sendo dito". Isto quer dizer que os objetivos do orador variam, da simples transmissão de informações à necessidade de motivar as pessoas que o ouvem, mas isto não significa que ele tenha que convencê-los. "Convencer" é fazer alguém reconhecer ou aceitar algo como verdade. "Motivar" é despertar interesse, estimular, incentivar. São, portanto, duas coisas bem diferentes. Dependendo de cada caso, "motivar" ou "informar" é que são os reais objetivos da oratória.
É para cumprir o objetivo de motivar que, durante uma palestra, uma conferência, um seminário, etc., os oradores sempre deixam um espaço de tempo para um debate entre a plateia e eles após o fim de suas exposições. Nesse debate, os ouvintes fazem perguntas, pedem maiores esclarecimentos sobre determinados pontos, etc., e o palestrante ou conferencista responde e re-explica.
Isto significa que o bom orador sabe que tem que ouvir tanto quanto tem que falar. Um "curso de oratória" que não ensina a pessoa também a ouvir não é um curso de oratória. Mas este assunto não termina aqui: terá continuidade na próxima postagem. 

Ilustrações: Arquivo Google

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