quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Vícios - O que os novos estudos revelam sobre eles?

Fotos: Raíz da Vida, Drogas e Vícios e Portal Libertarianismo.
Fotos como estas
retratam a realidade,
mas muitos viciados
sempre acham
que são imagens exageradas.


Há também os que admitem essa realidade, mas nem assim encontram forças para se livrar dos vícios. Há ainda os que se encontram em situação mais grave: nem sequer tentam se livrar. O pior, mesmo, é que em qualquer dos casos, o problema do vício não atinge apenas o viciado: as consequências atingem toda a família e, por extensão, toda a comunidade na qual ela vive e a sociedade de um modo geral. 
"Vício" é uma palavra de origem latina. Vem de "vitium", que significa "falha", "defeito", em latim. É um conjunto de hábitos repetitivos que degenera o viciado física e/ou mentalmente, prejudicando também, e muito, todas as pessoas que convivem com ele. O conceito atual se relaciona a denominações que se modificaram ao longo do tempo e assumiram uma estreita relação entre o Estado, a individualidade, a ética, a moral, a interpretações religiosas, etc. Muitos médicos afirmam que os vícios são doenças muito difíceis de serem tratadas, não apenas porque muitos viciados não se consideram viciados, mas principalmente porque o vício é sempre muito mais visto como algo socialmente inadequado, vergonhoso, do que como uma doença que deve ser tratada. 
Ainda prevalece nos meios sociais, especialmente nas famílias, a ideia, generalizadora e antiga, de que a virtude se revela na dor seguida do prazer e o vício é o oposto disto. É preciso lembrar que cada pessoa é, em todos os sentidos, diferente de todas as outras. Por isto, é evidente que os períodos em que a dor e o prazer se inserem ocorrem diferentemente em cada pessoa e, segundo os especialistas, em ambos os casos o segundo período é sempre mais longo do que o primeiro. É preciso também lembrar que os vícios são os opostos das virtudes. Isto significa que, se a conquista de uma vitória eleva o ego, a perda e a derrota causam o contrário, e todos nós estamos constantemente sujeitos às duas situações, e isto tem reflexos sociais e biológicos.
A ciência tenta explicar as origens dos vícios. Sob o ponto de vista da filosofia, esses estudos científicos são contraditórios porque os conceitos científicos não prescindem de moral ou ética. Os cientistas afirmam que esses preceitos são, sim, levados em consideração em suas práticas investigatórias, tanto assim que os vícios são cientificamente estudados como vinculados às relações de trabalho, ao convívio familiar e comunitário, etc. Por trazerem problemas físicos, os vícios são estudados através da medicina, mas também como trazem problemas sociais, emocionais e mentais, eles são cientificamente analisados por psicólogos, psicanalistas e até antropólogos. A antropologia é a ciência que relaciona os estudos sobre o ser humano individualmente aos estudos sobre a humanidade como um todo.  Isto quer dizer que, para os antropólogos, o comportamento do indivíduo humano é objeto de estudo como parte da sociedade em que ele vive, sendo esta também um objeto de estudo como parte integrante de tida a humanidade. 
Na psicologia, o vício é estudado por especialistas em psicologia comportamental. Para estes, todo vício resulta de uma construção orgânica desencadeada pelo reforço de uma relação entre estímulo e prazer químico. Há psicólogos que o descrevem também como uma questão puramente biológica, baseados na psicanálise lacaniana(*).
O psicanalista Jorge Forbes diz que a psicanálise do século XXI é muito diferente daquela proposta por Frëud. "O mundo não é mais o mesmo: os avanços das ciências e das comunicações trouxeram novas soluções e reformularam os problemas das mulheres e dos homens. Não se adoece mais da mesma maneira, não se é mais feliz ou infeliz da mesma forma. O homem, o pai, o filho, o amante são outros. A mulher, a mãe, a filha, a amada são outras. A orientação que Jacques Lacan deu à psicanálise freudiana retirou-a do terreno hermenêutico, preparando-a para ao tratamento desse sujeito pós-moderno, caracterizado pela falta de ideais e de paradigmas; potencialmente irresponsável em sua subjetividade." - ele explica. 
Forbes é psicanalista e médico psiquiatra em São Paulo (SP) e doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) - Faculdade de Medicina (Neurologia). É também mestre em Psicanálise pela Universidade Paris VIII e analista membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Escola Europeia de Psicanálise e membro da Associação Mundial de Psicanálise (AMP). O que ele diz reflete com clareza a necessidade de se estudar os vícios como também causados por novos produtos e novos comportamentos surgidos na sociedade atual. Tais vícios têm, portanto, novos motivos e novas consequências que certamente não podiam ser estudados sob o ponto de vista de Frëud, que viveu a realidade de um mundo entre o final do século XIX e o início do século XX.

(*) Processo psicanalítico criado pelo francês Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981), que se opõe a muitos pontos de vista estabelecidos por Sigmund Frëud, buscando a psicanálise, adaptando-a às realidades do mundo atual.

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