terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A Origem da Expressão "Pão e Circo"

O Coliseu atualmente.
Foto: Circomace
Muitas coisas
que ocorriam
no Império Romano
se assemelham
ao que ocorre 
no Brasil ainda hoje.


A queda do Império Romano ocorreu em 476 d.C. (depois de Cristo) quando Roma foi tomada pelos Hérulos, povo de origem germânica proveniente do sul da Escandinávia. Entretanto, não foi simplesmente esse ataque que culminou com o que foi um dos impérios mais poderosos da região do Lácio durante séculos, de 44 a.C. (antes de Cristo) a 476 d.C. Há anos havia um clima de instabilidade em Roma.
O Império Romano teve seu auge nos séculos I e II d.C. com sistema econômico mais avançado que existiu até então no mundo. Entretanto, o declínio gradual da economia principalmente no final do século V, os atos de corrupção política, etc., contribuíram muito para esse fim. A massiva inflação promovida pelos próprios imperadores aniquilou a moeda corrente - o "soldo", de cujo nome veio a palavra "saldo", usada por nós. Anulou-se a prática do cálculo da economia a alongo prazo e isto causou a queda da acumulação de capital e o descontrole da maioria dos preços, causando efeitos desastrosos.
A partir disto, o colapso comercial e industrial causou a diminuição da população de todas as cidades que integravam o Império. Em Constantinopla, só para citar um exemplo, o número de cidadãos durante o Principado em Roma era cerca de 320 mil, mas ao final do século V havia apenas 80 mil. Os trabalhadores desempregados se fixaram nos campos para produzir os bens que eles mesmos necessitavam. Foi principalmente a partir daí que os espetáculos nos circos romanos começaram a ganhar destaque.
Por essa ocasião, as manifestações populares contra o governo começaram a surgir por toda parte. Para contê-las, o Império começou a distribuir alimentos de graça para o povo em Roma e nas colônias. A ideia era esta: quem recebia alimentação sem ter que trabalhar tinha menos motivos para reclamar. Ao mesmo tempo, o Império oferecia ao povo espetáculos como torneios esportivos e circos de graça para a população cerca de 200 dias por ano, e muitos desses espetáculos duravam o dia inteiro com estádios como o Coliseu lotados. A razão? Enquanto o povo permanecia nos estádios, não estava nas ruas para se manifestar. Isto fez o poeta romano Juvenal escrever em uma de suas obras: "Dê pão e circo ao povo, e fica fácil governar."
O que acontece no Brasil atualmente é bem semelhante ao que ocorria no Império Romano naqueles anos. O "pão" representa programas como o Bolsa Família. O "circo" representa os constantes torneios municipais, estaduais, nacionais e internacionais de futebol; pelo Carnaval que oficialmente ocorre durante três dias mas em várias cidades dura uma semana ou mais; pelo excesso de feriados nacionais, estaduais e municipais; pelo dia de inatividade em que as pessoas deveriam trabalhar mas são dispensadas para isto por ocorrer entre um feriado e o fim de semana; pelo descanso semanal que deveria ser apenas no domingo mas é realizado também no sábado; etc. Às vezes, no Brasil, ocorrem manifestações de protestos aos governos municipais, estaduais ou federal; mas basta ter uma transmissão de futebol pela televisão e a maioria dos torcedores fica em casa para assistir ao jogo.
Nos dias em que a Seleção Brasileira de Futebol participa em jogos na Copa do Mundo, todas as principais fontes da economia nacional são paralisadas como se esses dias fossem feriados, para que os torcedores fiquem em casa por causa do futebol, como se isto fosse tão importante para o país. O Brasil é até agora o único penta campeão mundial de futebol e até hoje isto não nos serviu para melhoria alguma. Ao contrário, a economia nacional e o sistema nacional de educação, que é a base principal para a prosperidade de qualquer nação, estão em situação cada vez pior. 
Para realizar a Copa 2014, foram feitos gastos enormes para melhorar as estruturas físicas dos estádios, e ao longo de anos pouco tem sido feito para melhorar estruturas de escolas e universidades. A razão: é conveniente, nesta situação, ter mais pessoas nos estádios e mais pessoas em casa vendo os jogos pela televisão, mais pessoas nas passarelas e arquibancadas durante os desfiles das escolas de samba, do que ter mais pessoas manifestando-se e fazendo reivindicações nas ruas. É por isto que quando nós, Brasileiros, pesquisamos a história do Império Romano, a entendemos com certa facilidade: é que, ao fazermos isto, vem à nossa lembrança a nossa própria realidade.

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